sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Parte 2 de 4: O “Processo Imbecilizador”: A humilhação docente como instrumento de política neoliberal da Educação Básica em São Paulo
2. O “Processo Imbecilizador”: uma insana metástase
Não há outro inferno para o homem além da estupidez ou da maldade dos seus semelhantes. (Marquês de Sade)
O “Processo Imbecilizador” na rede oficial de Educação pública de São Paulo constitui numa das políticas mais cretinas e bem eficientes por parte de um Poder Público irresponsável e fascista.
Num primeiro momento, o objetivo é fragmentar e pulverizar a categoria docente atribuindo-lhe uma política salarial de “bônus” individuais (até hoje não existe sequer um regra minimamente racional para se entender o misterioso processo de sua concessão!). A política de bônus serve apenas como um “cala boca” e fragmentador da mobilização dos docentes. Como sua concessão é aleatória, quem “ganha” o bônus acaba, por sua vez, sendo cooptado na ilusão de ampliação financeira em seus proventos. Mais uma vez, a SEE-SP se aproveita do narcisismo primário dos professores e consolida sua política de desestabilização do funcionalismo público.
No segundo momento é responsabilizar os professores pelo caos na rede pública e deixar cada vez mais difíceis as condições de trabalho e sobrevivência dos docentes. É importante frisar sobre os sistemáticos processos de humilhação dos professores contratados (os chamados OFA/ACT) que a cada ano convivem com a insegurança de sua vida funcional. Para piorar, agora precisam passar por “provinhas” anuais estapafúrdias para conseguirem algumas aulas (outra humilhação de inicio de cada ano letivo é o processo de distribuição/atribuição de aulas para estes professores). Além de conviverem com o fantasma do desemprego sob a ameaça de não poderem obter aulas se não “passarem” nas provinhas.
O terceiro momento é terceirizar ou diluir as atribuições dos professores dentro de uma unidade escolar com projetos completamente alienados no interior escolar. Um exemplo é o midiático e perdulário projeto “Escola da Família”, onde a SEE-SP assume um papel lamentável de “cafetina educacional” para angariar jovens universitários da rede privada sem o menor preparo, motivação ou compromisso com a Educação para “atuarem na escola pública”. Naturalmente, o resultado é o mais ridículo, alienado e inútil processo de ilusão educacional à custa do dinheiro público, além contribuir para ampliar a desvalorização do quadro docente.
A humilhação continua no quarto momento, que consiste na oficialização do arrocho salarial da categoria docente e imposição sistemática de provinhas para conquistar um ilusório aumento salário. Destaca-se que nenhuma categoria de servidores públicos do Brasil passa por vexame humilhante e coube à alienação franciscana e beneditina do quadro docente assumir a serviçal postura de conceder aval as loucuras irresponsáveis dos gestores tucanos da SEE-SP. Como sucesso da campanha fascista da gestão tucana, a humilhação e a falta de amor-próprio por parte dos docentes é tamanha que é não raro que tais professores achem que é “importante passar por este tipo de avaliação”!
Merece breve menção outra maldição que impregna o inconsciente da classe docente: a tarefa sacerdotal da profissão ser vista como uma dádiva divina. Tal como o processo de construção do heroísmo messiânico descrito na Bíblia sobre o martírio de Jesus Cristo, que percorreu a ferro, escárnio e seguidas humilhações a via crusis (perfazendo as catorze estações) desde o Pretório de Pilatos até ser crucificado no Monte Calvário. Dentro dos limites do imaginário docente, cada professor carrega consigo a ambivalência do narcisismo docente e a sacerdócio divino. Nesta psicanálise metafísica do oficio docente, o professor se sente incapaz de sublevar com maior tenacidade as agruras que sobrecarregam suas costas no inimaginável submundo de seu pequeno campo de concentração educacional.
Escolas públicas depauperadas, arquitetura carcerária, política do silêncio, desqualificação docente, administração primitiva (operadas por diretores incompetentes, omissos ou corruptos, salvo algumas exceções) e aliando-se as condições subumanas de trabalho. Devido a uma variabilidade assimétrica originada pelo caos que é a rede pública estadual, cada unidade escolar poderá ter suas especificidades, porém as condições de precariedade é um fator comum a praticamente todas as escolas. Com uma política da “promoção automática” dos alunos imposta nos anos iniciais ainda na gestão tucana de Mario Covas, a ridicularização do trabalho docente ganhou maior desenvoltura ao ponto surreal de um aluno do final da Educação Básica, ou seja, o terceiro ano do Ensino Médio, sair com um diploma debaixo do braço e continuar ser apenas um analfabeto funcional!
(Continua em: “3. O chamado para a “jihad educacional”)
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