sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Parte 3 de 4: O “Processo Imbecilizador”: A humilhação docente como instrumento de política neoliberal da Educação Básica em São Paulo


3. O chamado para a “jihad educacional”




Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor.

(Johann Goethe)



A situação da rede pública estadual de ensino só não é pior porque já se tornou impossível piorá-la! O fundo do interminável fosso de Educação Básica em São Paulo já foi atingindo com méritos tucanos. O resta ao docente dois caminhos antagônicos que ele deverá optar: continuar na servidão da via crucis ou ser mais um “mujahid” para a “jihad educacional”. Uma analogia com o Islão é pertinente dentro do atual quadro de desespero que se encontra a Educação Básica e, aqui, se fará um exercício de reflexão. A palavra árabe jihad (literalmente se traduz por “luta”) significa linguisticamente “esforço” ou “empenho” (tal termo pode ser usado por muçulmanos ou não-muçulmanos) e não se trata de uma insana “guerra santa” (como preconceituosamente foi taxada pelos colonizadores europeus durante a Idade Média em batalhas religiosas contra os seguidores do Corão e do Profeta Maomé)[1]. Desta maneira, a Jihad seria uma luta por vontade pessoal da busca e conquista da fé. Logo, o mujahid é o seguidor da Jihad. De forma análoga, cada professor consciente de seu papel social será um mujahid neste processo de luta contra a terra arrasada imposta pelas seguidas políticas tucanas de destruição da educação pública.



Agora, no mês de janeiro, em plenas férias do quadro docente, o governo implanta seu processo seletivo onde apenas 25% dos melhores colocados adicionarão alguns trocados ao seu provento mensal (isto é, para quem eventualmente conseguir atingir as megalomaníacas metas impostas no projeto). O primeiro passo para o eleitoral ano de 2010 é o boicote às débeis provinhas de promoção. Nenhum professor poderá dar aval para este descalabro neurótico promovido pela PLC 29/09 sob pena de estar contribuindo para a insanidade da dupla Serra/Paulo Renato. Cada professor que busque dignificar sua profissão não poderá sucumbir ao processo de submissão voluntária em trocas de algumas supostas migalhas. É pura ilusão acreditar irão conseguir superar os mirabolantes condicionantes exigidos pela PLC 29/09 para conquistar algum naco de salário pela via estúpida de provinhas. Ressaltando, aqui se trata de aplicação do processo de provas para a classe docente em pelo período de suas férias! Para alertar aos conservadores de plantão, isto não significa que os professores não são capazes de fazerem provas ou bobagens similares, mas sim que o projeto foi elaborado propositadamente para que os docentes de fato não consigam passar pelo processo seletivo.


Seria o projeto um emaranhado de imposições nefastas cujo objetivo é apenas humilhar os professores? Sim, sem dúvida! Bastaria uma simples leitura do projeto para entender seu caráter ordinário e inverossímil! Ademais, não se pode imputar aos docentes uma prova para ganhar nacos de aumento salário uma vez que fere de antemão a isonomia salarial da categoria. Cabe aos sindicatos, em particular a APEOESP, boicotar jurídica e política e fisicamente este tal processo de provinhas e buscar criar condições mínimas para o docente observar reflexivamente ao espelho suas condições de trabalho e sobrevida. A simples acomodação a este processo será a lápide que ornará o fim da categoria docente como norteadores e propulsores de lampejos de esperança social. Notadamente, o mero apelo ao desconhecimento dos fatos não servirá como alívio para a prostrada acomodação, como observa Guiorgui V. Plekhanov: “[...] os homens adquirem consciência de sua situação com um atraso maior ou menor em relação ao desenvolvimento das novas relações que modificam essa situação”.


Tal situação não se trata mais de como se chegou ao fundo do poço, mas como a classe docente sairá deste lamaçal histórico promovido pelas mentes disformes da SEE-SP e a ninhada tucana. Dizer “NÃO” para as benditas “provinhas” também é dizer um grande “SIM” para a dignidade do professor. Dizer “NÃO" para o processo imbecilizador da carreira docente é também dizer um fértil “SIM” para o olhar responsável do docente perante sua categoria e ambiente de trabalho. Dizer “NÃO” ao processo de destruição fascista da educação pública pela administração tucana é dizer um enfático “SIM” para uma à construção de um novo modelo de dignidade para a educação pública.


A luta pela dignidade e melhores condições de vida é a própria luta pela emancipação humana. Logo, cabe a todos os professores da rede pública a adoção do boicote sistemático e não contribuir para dar aval as tais “provinhas” do processo seletivo do governo Serra. O boicote é uma forma de resistência e luta em favor da escola pública e da dignidade da carreira docente.


Contra a opressão é necessário a sublevação. Destaca-se pertinentemente que para transformar a condição humana de sua passividade sistêmica é necessário fazer uma revolução. As palavras de Karl Marx endossam a argumentação: “a coincidência da mudança das circunstâncias com a atividade humana, ou mudança dos próprios homens, pode ser concebida e entendida racionalmente como prática revolucionária”. Portanto, a jihad educacional proposta é o único caminho para buscar a dignidade usurpada por anos de destruição do sistema educacional pela ordinária política tucana.



(Continua em: “4. Emancipação humana contra a barbárie”)




[1] No árabe o termo "guerra santa" pode ser encontrado para a expressão "harbun muqaddasatu" ou "al-harbu al-muqaddasatu".




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