quinta-feira, 25 de março de 2010
A Greve dos Professores: A truculência policial, o circo do bônus e o autismo sindical
1. A face fascistóide de Serra
Segundo a Folha Online, em meio à greve da categoria, cerca de 30 professores protestaram contra o governador José Serra (PSDB), no ato de inauguração do Centro de Atenção à Saúde Mental, em Franco da Rocha (SP) na quarta-feira, 24/03 . Dados da APEOESP, quatro professores da rede foram presos pela Polícia Militar. Na delicada truculência de sempre, a polícia usou cassetetes e gás de pimenta para dispersar a mobilização destes professores.
Ainda nesta quarta-feira, 24/03, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (SEE-SP) descartou qualquer disposição para o diálogo com a APEOESP. Desta maneira, fica mais uma vez evidente que somente uma radicalização do movimento para que possa trazer um mínimo de sensibilidade ao governo Serra. Como são usuais em governos neoliberais, mais uma vez, reproduziram em Franco da Rocha as práticas tucanas no poder que é destilar a truculência e zombaria contra os movimentos reivindicatórios dos trabalhadores.
2. Circo do Bônus: Maquiagem e Vassalagem
Em meio à greve dos professores da rede pública estadual, Serra faz propaganda para toda a sociedade prometendo liberar o dinheiro do “bônus do professor” e alardeado para esta quinta-feira, 25 de março. Fundamentalmente, bônus não é salário, mas somente se constitui na mais abjeta submissão e vassalagem do funcionário público. No atual momento, a famigerada política de bônus do governo Serra para os professores atende a uma serviçal construção de um subliminar aliciamento político e assim diluir a mobilização grevista da classe docente. Do ponto de vista do exotismo da “carreira” docente do Estado de São Paulo e da dignidade humana, como se tivesse fazendo uma alusão ao falo masculino, é tão triste e patética uma “disputa” na sala dos professores para ver “quem tem o bônus maior”!
Ressalta-se que até agora não se tem conhecimento com clareza os cálculos que geram a tal bonificação. Ao contrario que é propagandeado na mídia, vale lembrar que o professor da escola pública no Estado de maior pujança econômica do país não existe uma “carreira” de fato, mas um amontoado de pseudo-políticas aleatórias que ninguém (e nem mesmo da própria SEE-SP) sabe explicar com exatidão. Logo, após anos de demolição do ensino público por parte das políticas neoliberais do PSDB, ingressar no magistério público estadual hoje em São Paulo é uma medida de desespero econômico ou cumprir um bolorento sacerdócio!
Para compreender os efeitos nocivos de uma política de bonificação é importante refletir a ação corrosiva que age dentro da classe docente. A partir dos critérios da SEE-SP e após anos de arrocho salarial, criam-se duas classes através da política de bonificação: os que recebem o bônus e os que não têm direito a nada. Dentre os que recebem a dádiva do bônus, criam-se múltiplas subclasses de faixas de valores cujo teto máximo, fica para os Supervisores de Ensino e Dirigentes Regionais que pouco ou nada fazem para melhorar a qualidade do ensino (além de perseguirem muitos professores contrários à política débil da SEE-SP).
Os professores das escolas que não atingiram aos supostos critérios do IDESP (cujo pomposo título é Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) não tem o direito de receber o bônus. Ademais, nunca é tarde para lembrar: as escolas que não atingiram o tal índice do IDESP precisarão aprender com as escolas que fizeram a lição de casa “direitinho”. Em claro e bom tom: é necessário “maquilar” oficialmente os números de suas unidades escolares uma fez que é impossível atingir tais "metas" diante do fosso educacional que se encontra a quase totalidade das escolas públicas do Estado de São Paulo! Os índices de IDESP e similares são meros conjuntos ficcionais destinados a única e exclusiva propaganda política. Sim, a sórdida, inescrupulosa e cretina propaganda política à custa de gerações de alunos e professores. Ainda, para finalizar as querelas da bonificação, professores que tiveram faltas durante o ano (seja lá quais forem os motivos) não participarão da "bolada". Por exemplo, se o professor ficou doente e precisou ter faltas médicas ou afastamento médico, não participará do circo do bônus. Infelizmente, mais lamentável do que esta política neoliberal é a adesão sem reflexão de uma parte da categoria docente que ainda aceita passivamente assistir sua profissão liquefazer em vão.
A política de bônus é mais um destes entulhos neoliberais criados para desarticular movimentos de trabalhadores e esfacelar qualquer sociedade que possa primar pela igualdade e justiça social. A perversidade dos modelos adotados de políticas públicas que seguem a “cartilha neoliberal” é muito mais do que um mero debate ideológico, mas é um mecanismo de desarticulação social. Logo, pela desnorteada bússola neoliberal, o importante é criar um conjunto de regras completamente estúpidas e estapafúrdias para dar o verniz do “profissionalismo” e “competência” dignos das pérolas demagógicas que os tucanos adoram verbalizar em períodos eleitorais (e infelizmente, algumas correntes que se dizem “à esquerda” embarcaram neste discurso estéril). Nesta política de bonificação, a meritocracia de resultados é como se a profissão docente fosse um alegórico prostíbulo onde se premiam as melhores e mais dedicados “funcionários” da casa! Admira-se a demora que os sucessivos governos do PSDB não fez a honraria ao polêmico Sr. Oscar Maroni, dono da controversa “casa de lazer adulto”, a Bahamas Night Club, para ocupar a cadeira de secretário de Educação do Estado. Não há dúvidas que Maroni daria um toque mais elegantemente “profissional” às política educacional dos tucanos em São Paulo.
3. Recuo nas reivindicações e o autismo sindical
Nesta quarta, 24/03, em nova tentativa de dialogar com o governo Serra, uma nota a lamentar é o recuo desnecessário que a APEOESP fez no rol das reivindicações da categoria. De um conjunto de oito pontos básicos inicialmente defendidos em assembléia, ficaram de fora da lista, o fim da prova para selecionar temporários e o limite de faltas médicas. Com o governo Serra imóvel e intransigente quanto ao diálogo com a categoria, o impasse tenderá a fortalecer. Todavia é salutar perguntar aos articuladores da direção do movimento (entre eles a APEOESP) como é possível retirar conjunto da pauta de reivindicações sem ainda ocorrer de fato um único momento de negociação por parte do governo Serra. Um aplauso à “intelligentsia” sindical!
Neste momento, recuar é retroceder. Cortar um ou mais reivindicações sem ao menos sentar-se à mesa de negociações é uma atitude que demonstra muito mais um momento de fraqueza do que uma suposta “habilidade” de negociação. É sempre bom lembrar que as estruturas burocratizadas dos sindicatos há tempos entraram em metástase com direito às ramificações de tecido necrosado. O modelo de feudalização sindical envelheceu e com isto entrou para o asilo suas práticas, idéias e articulações. É fundamental o surgimento de um novo modelo de sindicalismo, mais próximo do professor (a chamada “base”) e mais coeso na construção de alternativas para criar identidade e lutar num mundo capitaneado pela sociedade de hiperconsumo e ideologia neoliberal.
A disputa de idéias dentro de qualquer movimento social é tão salutar quanto necessário. Todavia não se pode chegar ao limite da autofagia. É importante ressaltar que o momento deverá primar sobretudo pelo senso maior de união dentre as diversas correntes que atua dentro da APEOESP. Na “sopa de letras e siglas” que compõe um caldo de tendências (e quase sempre com práticas fratricidas) é fundamental deixar de lado os egos supostamente ideológicos em troca de atitudes mais inteligíveis e salutares para uma causa maior que a luta por melhores condições de trabalho e dignidade do associado, ou seja, o professor.
Para os que adora atear gasolina na fogueira, uma suposta derrota do movimento será mais uma derrota de todos os professores. Portanto, nada sobrará nada para grupos oportunistas de plantão roer as vísceras do moribundo professorado. O “inimigo” a ser vencido são as nefastas políticas públicas neoliberais e não os próprios companheiros de sindicato. É necessário maturidade e olhar crítico para um novo tempo de incertezas e adversidade poucos “visíveis”. Um tempo que não perdoará aqueles modelos presos à práticas ultrapassadas e inócuas dentro do movimento sindical. A unidade sindical é a artéria que transita a fluidez necessária ao movimento. Excessos de egos e proselitismos de liturgias ideológicas somente criam o que já é bem conhecido e mapeado: o autismo sindical.
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